Vitória caminha às voltas na sala (UNIRI-05-PT)

Vitória é uma senhora de 75 anos que recentemente deu entrada numa residência sénior. Os seus filhos, que moram no estrangeiro, providenciaram para a mãe ir para a residência sénior após os vizinhos os alertarem que Vitória teve alguns incidentes, como ter-se esquecido do almoço, tendo este ficado queimado, e cair na rua ao sair de uma loja. Vitória foi acomodada num quarto com dois outros utentes. Um mês após a sua chegada, alguns itens pessoais de outros quartos desapareceram. Depois disso, Vitória começou a ter à noite um aumento dos batimentos cardíacos, pressão arterial alta e problemas respiratórios (falta de ar e sensação de respiração superficial). Esses sintomas não estavam presentes aquando da sua admissão. As colegas de quarto relataram que Vitória anda pelo quarto durante a noite e que fica irritada durante o dia, perde as suas coisas e depois acusa as colegas de quarto de as ter tirado.

A equipa de enfermagem atribuiu a alteração do seu estado de saúde e de comportamento ao processo de adaptação e possivelmente aos primeiros sinais de demência, pois perceberam que às vezes ela não sabia a data e a hora. No mês seguinte, Vitória tornou-se ainda mais retraída, desconfiada da equipa de enfermagem, com mudanças visíveis de humor e passou a dormir apenas com as luzes acesas. O que o pessoal não sabia é que Vitória tinha sido vítima de assalto na sua residência. Cinco anos antes, à meia-noite, dois intrusos invadiram a sua casa. Quando ela acordou e os interrompeu, eles ameaçaram matá-la. Ela estava com tanto medo que urinou. Ela temeu pela sua vida, mas também sentia muita vergonha da sua própria reação, de que não falou com ninguém.

A equipa médica percebeu que o aumento de batimentos cardíacos, da pressão arterial juntamente com as perturbações do sono, irritabilidade, problemas de concentração e necessidade de acender as luzes podem estar relacionados a um possível trauma psicológico.

Eles reconheceram que alguns dos comportamentos de Vitória, que foram rotulados como difíceis (acusar os outros de pegar nas suas coisas, passear à noite, manter as luzes acesas), poderiam ser, na verdade, uma reação que começou após o desaparecimento de alguns objetos.

Vitória foi convidada a ter uma conversa com a enfermeira-chefe. A enfermeira-chefe cancelou a sua agenda para ter certeza de que teria o tempo suficiente para Vitória, tendo desligado o telefone. Quando Vitória entrou, disse para escolher um lugar da sua preferência, ofereceu-lhe um pouco de chá e perguntou-lhe se ela se sentia confortável. A enfermeira-chefe percebeu que Vitória estava a sentir-se insegura e desconfiada da conversa, então utilizou a técnica de reflexão na tentativa de facilitar a conversa. Mais tarde na conversa, Vitória sentiu-se confortável o suficiente para expressar as suas preocupações sobre os objetos desaparecidos e a possibilidade de haver um ladrão nas instalações.

A enfermeira-chefe, juntamente com outros membros da equipa, ofereceram a Vitória a possibilidade de reorganizar as suas condições de vida, para que ela se sentisse mais segura. A cama de Vitória ficou mais distante da porta, deram-lhe um cofre para ela colocar os seus pertences pessoais e uma pequena lanterna noturna.

Vitória começou a ter reuniões regulares com o conselheiro da residência e com o tempo conseguiu falar sobre o evento traumático que tinha vivenciado há cinco anos. Como Vitória foi capaz de se sentir segura e protegida, o seu humor, o sono, a saúde e as relações sociais melhoraram.

Assist. Prof. Aleksandra Stevanović, psychol. PhD (UNIRI-MEDRI)